Parte 10
O Além e a Sobrevivência do Ser
Resumamos e concluamos. Através da espessa bruma em que flutua há tantos séculos o pensamento humano, tateando em busca do desconhecido, o fenômeno espírita faz passar um grande facho de luz. As quimeras que o passado engendrou se dissipam: não mais separação definitiva, não mais inferno eterno! O Além se revela nas suas misteriosas profundezas, onde se desdobra a vida infinita, onde atuam as forças divinas. A angústia das partidas, o desespero das separações cedem lugar à alegria do regresso e à inebriante promessa das reuniões entrevistas.
Todas as almas que se amam tornam a encontrar-se, a fim de prosseguirem juntas na sua evolução ascendente, de vida em vida, de mundo em mundo, e subirem para a perfeição, para Deus, banhadas de uma luz cada vez mais viva, ao seio de harmonias sempre e sempre mais grandiosas. A revelação dos Espíritos, feita em inúmeras mensagens faladas e escritas, recebidas em todos os pontos do globo, vem mostrar-nos o supremo alvo da vida, de todas as nossas vidas.
Essa meta é a liberação pelo trabalho, pelo esforço, pelo estudo, pelo sofrimento, pela lenta educação da alma através de todas as condições da vida social, que lhe cumpre suportar alternativamente; a liberação do mal, do erro, da paixão, da ignorância; é a arte de aprender a pensar por si mesmo, de julgar, de compreender todas as harmonias, todas as leis do sublime Universo. É a conquista da beleza, da liberdade, da bondade: a beleza da forma fluídica, do corpo etéreo que se transforma, ilumina e expande, à medida que o espírito se aclara, purifica e eleva; a beleza da alma que se enriquece de qualidades morais, de forças e de faculdades novas.
Assim, de ascensão em ascensão, de mundo em mundo a princípio, depois de sol em sol, no ciclo imenso de sua evolução, a alma vê aumentar seu poder de irradiação, sua luminosidade. Pela elevação gradual de seus pensamentos e pela pureza de seus atos chega a pôr em harmonia suas próprias vibrações com as vibrações do pensamento divino e daí lhe decorre uma fonte abundante de sensações, de percepções, de gozos, que a palavra humana é impotente para descrever.
Tal a missão a desempenhar! Mas isto ainda não basta. Trabalhando para si mesma, corre-lhe o dever de trabalhar para os outros, para a elevação de todos, para a marcha progressiva das Humanidades, para a unificação dos pensamentos, das crenças, das aspirações. Orientando para um ideal grandioso de porvir, de progresso moral, de luz, na vida sempre renovada, pela qual todos os seres se encontram unidos numa íntima solidariedade, numa comunhão de verdade e de amor, o homem chegará a melhor conhecer, a melhor compreender, a melhor servir a Deus.
Aos que percorrerem estas páginas direi, terminando: nos momentos difíceis da vida, na hora das provações, quando perderdes um ente amado, ou quando esperanças de há muito acariciadas vierem a desfazer-se, quando ficardes sem saúde e sentirdes que a vida se vai enfraquecendo aos poucos e aproximando-se o derradeiro minuto, aquele em que tereis de deixar a Terra; se, nesses instantes, a incerteza ou a angústia vos constrangerem o coração, lembrai-vos da voz que hoje vos clama: Sim, há um Além! sim, há outras vidas! Dos nossos sofrimentos, trabalhos e lágrimas nada se perde. Nenhuma provação é inútil, nenhum labor sem proveito, nenhuma dor sem compensação... Tende confiança em vós mesmos, confiança nas forças interiores que possuís, confiança no futuro sem-fim que vos está reservado. Tende a certeza de que há no Universo uma Potência soberana e paternal, que tudo dispôs com ordem, justiça, sabedoria e amor. Essas idéias vos inspirarão mais segurança na vida, mais coragem na prova, mais fé em vossos destinos. E avançareis como passo firme pela estrada infinita que se abre diante de vós.